Sou apaixonada
por sanitários, em especial pelos públicos. Um verdadeiro fascínio que exercem
sobre mim.
Assim me
confesso.
Por um lado
porque uma pessoa ao longo da vida passa muito tempo nestes locais. Quantas
ideias, pensamentos, decisões, contemplações e lembranças têm origem enquanto se
espera que o objetivo que aí nos levou seja descarregado?
Por outro lado porque
existe uma variabilidade de utensílios, automatismos e arte sanitária que neles
se podem encontrar.
E ainda…
Quantos filhos
não terão já sido gerados nestes locais? Quanto prazer e desprazer terá tido
lugar em sanitários?
Informados sobre
a razão do meu fascínio pelos sanitários, dedico-me a alguns aspetos.
As sanitas.
As sanitas até
aos meus 27 anos pouco estímulo provocaram. Até esta altura a minha ideia sobre
sanitas era minimalista e redutora: achava que todas as sanitas eram iguais!
Em Portugal as
sanitas resumiam-se a 2 tipos. Aquelas em que o material defecado ia
diretamente para o buraco do esgoto e aquelas cujo buraco era rente ao chão.
Estas últimas eram um desespero para mim. Mal as visualizava, mesmo que tivesse
uma dor na bexiga de tão cheia, o xixi teimava em não sair, aumentando assim o
meu tempo nesses locais deploráveis. Aquilo implicava alguma perícia e tinha
sempre o medo de me salpicar. O terror. Se bem que à primeira vista seria a
mais adequada às mulheres.
Foi com a minha
ida para Berlim em 1997 que este material sanitário despertou a minha atenção.
Ora no meu apartamento em Berlim a minha sanita tinha como que um patamar atrás
e acima do buraco da sanita. Assim uma pessoa tinha oportunidade de observar o
material defecado: textura, cor, dureza e presença de germes como por exemplo,
lombrigas. Muito útil. Até se podem fazer estudos científicos ao longo da vida
sobre o material defecado. Fascinante!
Já em 1998
quando tive a oportunidade de visitar os EUA, por ocasião de um congresso fui
de novo surpreendida por um outro tipo de sanita. Aqui a sanita estava cheia de
água. O terror. O medo do salpico daquela água que sabe-se lá que germes tinha.
Também neste caso temos oportunidade de fazer um estudo observacional do
material defecado uma vez que este fica a boiar na água. Se bem que neste caso,
penso que a observação não é tão fidedigna porque o material encontra-se
adulterado pelo contato/dissolução na água.
Aqui no Lago
Como em Itália a plataforma é à frente. Questionei-me acerca da utilidade do
patamar à frente e cheguei à conclusão que neste caso serve para um estudo
observacional da urina. Menos interessante, uma vez que apenas é possível
observar as tonalidades da mesma e, no caso dos homens, a não ser que se
queiram salpicar todos, não tem utilidade, a não ser claro como engolidor de
cocó.
Anseio por ir ao
Japão. Quantas páginas não poderia eu escrever sobre a sanita?! Ou não, porque
ali o mais provável é que vença a esterilidade.
Mas, como vos
disse, o meu fascínio por sanitários não se resume a sanitas. Atualmente o que
mais me fascina são os automatismos. Ora os automatismos nos sanitários foram
criados e aplicados nas casas de banho com vários objetivos, dois dos quais me
surgem de imediato: maior poupança (água e eletricidade) e maior higiene (não
necessitamos de tocar em superfícies sabe-se lá tocadas por que mãos imundas) e
os outros não estou a ver quais são, mas ficava bem a frase assim escrita. Não
tenho nada contra automatismos…esperem!
Não tenho nada
contra automatismos?! Como pude escrever tal heresia? Não fosse ser uma pessoa
respeitadora dos espaços públicos, quantos eu já não teria partido à pesada!
Então comecemos
pelos autoclismos de libertação de água automáticos. Em certos sítios uma pessoa faz basicamente uma
dança a ver se se ativam e…? Nada! Para a frente, para trás. Várias vezes.
Senta (ou finge que), levanta e…Nada. Nem uma gota. Uma pessoa vê-se obrigada a
deixar vergonhosamente o presente exposto para o cliente seguinte. Antes de
sair reza uma oração, não ao presente, mas para que não esteja uma pessoa à
porta para entrar. Por outro lado outros há em que uma pessoa abre a porta -
descarrega, aproximamos-nos - descarrega, movimento sentar - descarrega
(sente-se aquele ar fresquinho no rabo e às vezes desgostosamente uns pingos de
água), levantar – descarrega, a sair – descarrega. Não é fácil porra!
Pergunto-me se este sistema permite poupar realmente água!
Há depois a luz
automática.
Também ela
proporciona momentos de rara beleza! Tanto adeus e dança que se faz à sua
custa, valha-me nosso Senhor, Ámen. Acenamos com uma mão, acenamos com as duas,
pulamos, para a esquerda, para a direita, para a frente e para trás. Quantas
vezes sem sucesso nos vemos obrigados a libertar águas ou sólidos na completa
escuridão ou de porta entreaberta, privados da privacidade. Outras ainda a
mesma se desliga a meio do serviço e, em vão, se tenta reativar o sistema. Em
ambos os casos somos obrigados a fazer/acabar o serviço às escuras e, de novo,
rezar, mas desta vez para que o cú tenha ficado suficientemente limpo.
Entretanto devido à elevada disseminação destes automatismos, aconteceu-me hoje
no local da minha reunião, em que tudo era automático, estar aos pulos na casa
de banho e acenar para que a luz se ligasse e, devido ao insucesso, ter sido
obrigada a trocar de casa de banho (felizmente haviam duas) e só nessa altura
me ter apercebido que naquele edifício a luz era acionada por um simples
interruptor. Não é fácil. Mas é fascinante e não fosse ser um atentado à
privacidade eu propunha que se colocassem câmaras nestes locais. Seria por
certo uma fonte de embelezamento de certos programas televisivos.
Mas os sistemas
automáticos não ficam por aqui. Temos as torneiras automáticas!!!!!! Ontem tive
uma experiência com uma destas. Coloquei as mãos por baixo. Ativou, caiu água.
OK. Sabonete nas mãos. Esfrega-se as mãos. Parte seguinte enxaguar. Coloquei as
mão por baixo. Nada. Para a frente e para trás. Nada. Mais para cima. Nada.
Mais para baixo. Nada. Mais devagar. Nada. Mais depressa. Nada. Em círculos.
Nada. Só uma mão. Nada. As duas. Nada. Espera um momento. Volta a tentar nada.
Estava a olhar para as mãos cheias de sabonete quando uma senhora entra. Olho
para ela com ar desesperado e digo-lhe que não funciona. A senhora faz algumas
tentativas. Nada. Mais uma e…água cai da torneira e eu num movimento rápido que
até a mim me impressionou, coloquei as mãos por baixo da torneira e enxaguei-as
ao mesmo tempo que um suspiro de alívio se libertava dos meus lábios. Estava a
ver que tinha de ir de mãos estendidas suplicar ao empregado para enxaguar as
mãos no lava-loiças…
Portanto tenho
aqui a dizer que os automatismos sanitários despertam em mim ao mesmo tempo
fascínio e ódio. Para além de umas valentes pesadas também me dá vontade de
arrancar umas quantas torneiras e autoclismos à dentada.
Mas o que mais
me fascina mesmo é a arte sanitária. Tanto a escrita, como a desenhada. Da
desenhada não tenho muito a dizer, pois na maioria das vezes tem a forma de um
falo. Se bem que a forma de um falo nos sanitários pode por si só ser bastante
variável. Como na Natureza aliás. O que acho fantástico são as mensagens de
ódio e amor nas casas de banho públicas. Mais as de amor que as de ódio. Porque
pensando bem até pode ser um local apropriado para descrever, descarregar
ódios. Descrever ódios enquanto se defeca parece fazer todo o sentido. Agora
mensagens de amor?! Amo-te Francisco com um coração. Anastácia+Anacleto.
Telefones. Porquê numa porta ou parede de uma casa de banho pública? Se forem
mensagens de amor homossexual ainda vá que não vá, pois há probabilidade de o
ente amado as poder ver. Agora as de amor heterossexual??? Qual a probabilidade
da mensagem chegar ao ser amado? Escrever uma declração de amor num sanitário
público… imundo e mal cheiroso.
Imagino o amor
belo, suave e saboroso.
Imagino o odor
do amor a deixar-me ébria e cega.
Imagino que ao
inspirar o amor me eleve…
Me eleve e
consiga tocar as estrelas de uma outra galáxia.
Me eleve e me
proporcione a liberdade absoluta.
Imagino.
O.
Amor.
O amor a seguir
a sanitários…
Como se em vez
de uma folha branca de uma porta de casa de banho se tratasse.
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