sexta-feira, 29 de março de 2013

Aconteceu!


Aconteceu-me no outro dia.
Sim, que nos outros dias também me acontecem coisas.
Aconteceu-me sair do ginásio a horas tardias.
A horas tardias e sem pressas, porque afinal ninguém me havia a esperar.
Uma liberdade desmesurada.

No parque do ginásio um carro solitário à minha espera.
O único.
Dei por mim a pensar que era incrível que não me assustasse um parque assim.
Assim...
Sem viva alma.
Vazio.
Silencioso.
Espaço eleito em muitos filmes e livros como o local perfeito de muitos crimes.
Não tive medo.
Estranha a minha ausência...
Estranha a minha ausência de medo.
Quase me assustou não ter medo.
Medo de não ter medo.
Um sentimento interessante...

Entre estes e outros pensamentos menos detetáveis abri o porta-bagagens do carro.
O carro que era afinal o meu.
Entrei.
Não pelo porta-bagagens, mas pela porta do condutor.
Por esta altura o mais provável é que tivesse deixado de pensar no medo e pensasse agora em coisas mais mundanas e básicas como “ainda bem que o jantar é só aquecer, que estou cheia de fome!”.
Arranquei.
Na memória o parque vazio.
Vazio de gentes.
Vazio de viaturas.
Talvez tenha sido este o pensamento que me traiu...
O vazio do parque.
O parque vazio.
Dei à ignição.
Torci o volante todo para a esquerda.
Arranquei a toda a velocidade.
No vazio do parque fui espantada, talvez mesmo acordada, por um estrondo.
Parei de imediato.
Tinha esbarrado contra o poste que se encontrava junto ao carro do lado direito.
Com toda a força.
Que pouca força não é coisa para mim.
F****-se!
O parque estava vazio.
Vazio não! Tinha postes de cimento.
Nem saí para olhar o tamanho do meu estrago.
Tive medo.
Um medo verdadeiro.
O medo verdadeiro da minha ausência, do meu esquecimento...
O vazio não estava vazio.
Mas ficou a sensação do vazio no meu ser.
Impregnado e assustador.
Como se ausência e vazio fossem iguais e a mesma coisa.
Como se esquecimento e vazio fossem iguais e a mesma coisa.
Mas talvez o vazio, a ausência e o esquecimento sejam também eles enganadores...e nestes e entre estes possam existir alguns postes de cimento.
Um cimento bem duro.
Um cimento com o qual esbarramos e nos faz acordar.
Sem ausência. Nem esquecimento.
Sem vazio. Nem frio.

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