sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Amor insano

Hoje escolhi um dos acontecimentos mais marcantes da minha vida para relatar...

Marcante pelo amor, desespero, comédia, insanidade e sofrimento nele encerrado.

Não será o amor um pouco insano sempre?

Tudo começou em 1997 estava eu em Berlim. Tinha decidido tirar férias de homens. Um pouco de paz na vida e na cabeça. Eu sou assim. Decido sobre o que sinto e quando sinto. Mas isso só fica mesmo por pensamentos que se me cruzam na mente, porque na realidade estes pensamentos não valem uma poia. Mas pronto era neste estado em que eu estava.

Durou até ao dia em que fui jantar a casa de uma amiga Alemã. Esperavamos um novo elemento que tinha chegado ao laboratório deles. Já sentados à mesa (eu de frente para a porta) entra “o elemento”...

Pensei: “Estou fodida”.

E estava.

Tinha decidido o quê? Não me lembrei mais do que tinha decidido...

Chamava se Daniel. Alto louro e bem encorpado. Inteletualmente estimulante. Irresistivel a bem dizer. Assim vivi um amor arrebatador e intenso. Um amor com data de terminus maracada, porque cada um regressaria ao seu país. Eu a Portugal. Ele à Nova Zelândia. Eu sou assim...não poderia ser alguém de mais perto. Antipodas é que é! 

Nessa altura se ele me tivesse proposto ir para a Nova Zelândia eu tinha ido sem pensar duas vezes. Deixava o Doutoramento, deixava tudo...ele não propôs e eu também não. A separação não foi fácil...mas como se costuma dizer “não há nada que o tempo não sare”. Com o tempo ficou apenas a recordação de um bom tempo passado em Berlim. Pelo menos assim quis acreditar.

Anos mais tarde voltei a Berlim. Acabo de chegar e recebo um e-mail do Daniel a dizer que ia fazer um Pos-Doc para lá. Fiquei logo demasiado contente...

No dia em que chegou eu fazia um jantar em minha casa. Tinham me dito que estava mais gordo. Toca à porta. Não estava gordo o suficiente. (Engraçado que de novo já todos estavamos sentados à mesa...)fui abrir a porta. E de novo pensei...

Estou fodida.

E estava.

Ao menos sou coerente.

Acontece que por essa altura eu tinha um namorado espetacular, de quem gostava muito. Alguém que para mim era impensável magoar.

Encetei por isso uma luta interna feroz. Uma luta perdida à partida...impossível vencer um sentimento como amor. Cada dia que passava as minhas forças para lutar iam diminuindo e o tempo que me restava em Berlim também. Apoderou se por isso de mim o medo de o perder e não o voltar a ver. Um desespero insano. Como se sair dali fosse o fim...

A razão deixou o poder e deu lugar ao coração. E o meu de racional tem pouco ou nada.

Resolvi por isso marcar um encontro com ele para lhe expor os meus sentimentos.

Assim nos encontrámos.

Pedimos um copo.

Disse lhe que o amava, que ele tinha sido o único homem na minha vida de quem eu tinha desejado ter um filho. Sem papas na língua. De rajada. Após 3 anos.

Disse lhe que precisava de saber o que ele sentia por mim e se queria ficar comigo. E precisava de saber já, porque dentro de duas semanas ia me embora.

Ele respondeu que não sabia...que gostava muito de mim, mas que assim não me podia responder.

Na minha cabeça isto era um não. Ele não me amava. Pronto. Tal como tinha previsto. Sim porque eu já sabia tudo. Só lá tinha ido confirmar.

Respondi lhe que assim não dava para mim. Se ele não sabia, então eu preferia nunca mais o ver. Disse lhe que preferia morrer de um tiro, do que de um cancro. Sofreria menos. Palavras maravilhosas que me saem da boca. Amor ou morte...

Como já sabia o que ele ia responder…até tinha uma prenda para ele. Uma recordação. A banda sonora de um filme que tinhamos ido ver juntos “60 segundos”, que até nem tinha gostado por aí além, mas que tinha uma música dos Cult “Painted on my heart”, muito bonita e que descrevia no fundo o que eu sentia.

A conversa continuou a partir desse momento num tom de alguém que não mais se vai ver. Eu não fumava há 8 meses e ele não fumava. Fomos comprar tabaco (Malboro Lights) e começamos a fumar os dois. Ainda jantei com ele, mas na condição de ir-me embora à meia noite (acho que vi muitos filmes da Cinderela quando era pequena...).

À meia noite estavamos a despedir nos e ele disse me: “Please give me one last night of passion” ao que lhe respondi “I just promised you 1001 nights of passion and you just refused”.

Atravessei a estrada e apanhei o autocarro, deixando para trás o amor da minha vida.

Esta história até era fantástica se terminasse aqui...mas pior que o coração só mesmo os impulsos do corpo...e os dois resolveram aliar se contra mim.

Nas vesperas de partir escrevi lhe a dizer que o queria ver. Não me recordo do que falámos, mas acabámos na cama...tanta conversa do tiro e das 1001 noites e o caraças e certezas e...

Nesse dia quando vinha a sair de casa dele ele pediu-me:
- Please come back soon!
ao que lhe respondi 
- I will never be back.

Não voltei. 

Cult 
"Painted on my heart"
http://www.youtube.com/watch?v=H3Vu-EeYq_w



9 comentários:

  1. o amor é lixado mas ainda bem que acontece(u)
    ;)

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  2. Aleluia para "ainda bem que acontece(u)" :)

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  3. Filme difícil francês totau. O nunca mais e o sempre. Doem claro. Mas é a vida, e sempre nos permite exorcizar com a iarte. Gostei imensamente do post.

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  4. E quem nunca passou pelo mesmo que atire a primeira pedra.

    Estamos fodidos.

    Gostei muito do post.

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    1. E que tal atirarmos uma pedra a quem nunca passou por isto??? A ver se acorda, que um dia pode morrer e já não há nada a fazer!

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