Se há coisa de que não me posso queixar é de monotonia na vida.
Não tenho monotonia no trabalho, no amor, na amizade, no dia a dia…A única
coisa monótona é a ausência de monotonia. Essa sim mantém-se igual desde há
mais de 20 anos. Mas isso é muito bom dizem muitos, ou todos em uníssono. Será
que é mesmo?
Talvez uma vida monótona não encaixasse em mim e talvez eu não
encaixasse numa vida monótona…mas que a ausência de monotonia é um cansaço, ai
disso não tenho dúvidas.
A questão que me surgiu hoje, após o episódio que a seguir relato,
foi:
- Será que é a vida que me brinda com dinâmica e adrenalina,
ou será que sou eu que brindo a minha vida com dinâmica e adrenalina?
“Tudo sob controlo. Reunião acaba às 17h. Hotel buscar a mala –
5min. Apanhar metro em frente ao hotel para a estação “Cherche Midi (CM)”
– 5min. Apanhar comboio para aeroporto – 20min. Totaliza 30min. Mais o tempo
que se perde entre uma coisa e outra ~20min, dá um total de 50min. Chegada
prevista ao aeroporto – 17:50h. “Check in” previamente feito. Avião às
19h. Perfeito.
Reunião acaba às 17:05h. 5min a mais não é problema. Hotel
buscar a mala 5min. 17:10h. Perfeito. De modo a agilizar o percurso e
a ter a certeza que não me engano, pergunto ao empregado do hotel qual
a direção a tomar no metro para a estação CM. OK. Sigo em passo apressado,
feliz por ter um bilhete de metro e não precisar de perder tempo a comprar.
Perfeito. Pico o bilhete, desço para a estação. Metro a chegar dentro de 1min.
Perfeito. Olho para as linhas onde o metro ia parar. Confirmo com uma
transeunte. Não. Não é deste lado. F***F***daP*** do empregado de hotel.
Pequeno stress. Mudo de lado. Ahhh mudar de lado implica
passar de novo o bilhete. Merda. Não dá com o mesmo bilhete. Corro para uma
máquina automática. Compro outro bilhete e desçoapressadamente. O 2 e o 6 param
ambos na estação pretendida. O 2 está a passar. Hesito. A luz da CM não está
acesa. É melhor apanhar o próximo, são só mais 3min. 17:22h (depois veio-me à
cabeça que estava no metro e que o metro pára em todas as estações.
O stress retira a inteligência a uma pessoa!) O 6 chega, entro.
Espero que parta. Espero. Espero. Verifico as horas. Espero. Saímos da estação
às 17:30h. Chego à estação CM 17:36h. Um comboitinha acabado de partir.
Tenho comboio às 17:48h. Merda vou chegar mesmo em cima da hora. Espero que o
comboio não se atrase. Bom, a coisa boa é que
posso relaxadamente comprar o bilhete de comboio.
Pergunto imediatamente como fazê-lo para não perder mais tempo. Na
máquina. OK. Dirijo-me à máquina. Não percebo bem como comprar para o
aeroporto. Aquilo tinha para o País todo. Pergunto. Um senhor ajuda-me. Pago
com cartão (único modo de pagamento). Mensagem “unreadable card”. Tento de
novo. Igual. Olho bem para a máquina. Uma nota “só aceita cartões belgas”.
F***F***daP***, numa cidade tão internacional como Bruxelas não me têm máquinas
que deem para um VISA?!
Atrasados do C****. Pergunto mais uma vez a um senhor onde posso
comprar o bilhete sem ser na máquina. Informação recebida. Dirijo-me ao local.
Não é aqui. Sai, sempre em frente 2ª porta cor de laranja. Saio não vejo
nenhuma porta cor de laranja! Porra!!! Pergunto de novo. Mais à frente.
Dirijo-me apressadamente para o dito sitio. Entro. Uma fila enorme.
Olho para o relógio. 17:45h. F***F*** F***F*** F***F*** F***F***F***F***F***F***F***F***F***F***
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Pânico. 10s. Não há tempo para pânico. Corro a fila com
ar esbugalhado a dizer que tenho de apanhar o avião e a pedir que me
deixem passar à frente. Aceitam. Peço o bilhete. Tento pagar com cartão. Não
dá. Pago a dinheiro. Saco de uma nota de 20€, que basicamente mandei à cara da
empregada de balcão, a qual emitiu um som de surpresa. “Pardon” Meto o troco a
toda a pressa na carteira. Uma moeda cai. Cago. Mas senhora simpática apanha e
chama-me. Queria dizer “tou-me a cagar para essa merda”, mas a simpatia da
senhora tirou-me a coragem. Voltei atrás. Agradeci e sai a esvoaçar. Subo as
escadas duas a duas, com a mala de viagem pesada em mão (uma pessoa nestas
alturas é quase uma super mulher da pujança), e a pensar se perco a merda do
comboio dá-me uma coisa má. Tenho um ataque na plataforma. Chego à plataforma e
olho de imediato para o relógio…17:47h. Um suspiro de alívio. Mas ainda não a
salvo. Chego ao aeroporto às 18:15h. Entre a estação do comboio e as Partidas
ainda é uma distância considerável. Mais um trecho em corrida e chego
ao guichet da Tap Executive (o único ainda aberto),
com ar despenteado e esgazeado, pergunto em tom ansioso “Ainda me pode
aceitar a bagagem? Ao que o senhor me responde
“Je ne parles pas portugais”. C***** Est ce que je peux encore envoyer mon bagage? Resposta: Oui, je croix que
c’est encore possible.
Alívioooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo. O mundo é lindo
de novo e apetece-me beijar o homem. Na verdade nem me lembro se era bonito ou
não, porque de tão esgazeada que estava, basicamente atirei-lhe com
o boarding pass e a identificação, pus a mala no tapete, recolhi
o boarding pass e a identificação e devo ter dito Merci.
Por outro lado o pensamento do beijo talvez não tenha acontecido pela mesma
razão.”
Talvez estejam a pensar:
- Coitada nem imagino se tivesse perdido o avião. O cansaço,
a vontade de chegar a casa…
Podia ser esta a motivação para tanta ansiedade. Mas não era. Não.
Não o cansaço, não o medo de perder o avião, não a hipótese de gastar mais
dinheiro a comprar uma nova passagem e/ou uma noite num hotel e mais um dia
fora da minha casinha. A única coisa que me ocupava a cabeça era: tenho de
poder enviar a mala. Tenho de chegar a tempo de enviar a mala. Se não conseguir
enviar a mala tenho um ataque de choro e esvaio-me em espasmos histéricos. E
porquê???? Porque a mala não tinha o tamanho standard para o avião??? Não. Nada
disso.
Porque tinha comprado 500ml de creme do corpo, 500ml gel
duche e 500 ml de desmaquilhante em Paris (muito mais
barato), que não iriam passar no ponto de controlo e que teria de deixar lá.
Ora isto já me tinha acontecido 1x em Paris. Era portanto uma questão de
orgulho e honra. Já estava preparada para os enviar pelo correio, caso não me
tivessem deixado enviar a mala e caso houvesse no aeroporto um posto de
correio.
Portanto há momentos na vida que o mais importante não é salvar o
planeta, não é salvar Portugal, não é defender a investigação, não é ir para a
Rua apanhar o lixo dos porcalhões abadalhocados que pensam que tudo é
uma lixeira ou balde do lixo, não são os 99% dos indignados, não é ajudar os
mais necessitados, não é chegar ou não a casa, não é estar bem ou mal…
…há momentos na vida em que o mais importante é salvar 1.5 Litros
de produtos de higiene e beleza. 1500 Militros de produtos de higiene
e beleza. 1500000 Microlitros de produtos de higiene e beleza.
1500000000 Nanolitros de produtos de higiene e beleza.
1500000000000 Picolitros de produtos de higiene e beleza.
1500000000000000 Fentolitros de produtos de higiene e beleza.
É muito. É importante. É essencial. É isto. É isto que dá
uma tusa do caraças, uma adrenalina do melhor,
um esgazeamento e um despenteamento maior do que o de um
orgasmo múltiplo de 5min. É isto pá. É isto. E é bué.
1500000000000000 Fentolitros de produtos de higiene e
beleza caralho.
(escrito a 19.01.12)
Muito bom!...De facto há prioridades q por vezes nos falham, e a salvação dos fentolitros, obviamente, vigora! Muita vida d'aquém e d'além dáALI.
ResponderEliminarTamborim Zim