sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Sofrimento

F****-** Anabela, mas quem é que quer falar do sofrimento??? Ainda por cima a um Sábado de manhã?! Tens de ultrapassar isso pá. Tu pensas demais...

Ora pois quem quer falar disso...EU e sim a um sábado de manhã! Porque não? E para ser ainda mais contrastante apetece-me falar do sofrimento e estou alegre. Ahhh pois é bébé.
               
Vamos recomeçar...O sofrimento...

O sofrimento é uma grande merda. Ninguém gosta dele e toda a gente foge dele a sete pés. Uma verdade de La Palice. Para que perco tempo a dizer verdades lapaliçadas?

Então mas que raio tenho eu para falar sobre o sofrimento a um sábado de manhã? Podia falar do tempo...ahhh o tempo. Todo o Portugal se encontra maravilhado com ele. É fabuloso como a descida de temperatura, pode provocar tanta alegria, medo e emoção na população portuguesa! E eu a pensar que nas minhas reuniões é que era. Como estava enganada caramba!!! Isto sim, é que é. O êxtase completo. Acho que todos os Lisboetas hoje saíram à Rua com botas de neve. Eu farei igual, que hoje não me apetece armar-me em mete nojo. Assim, tenho oportunidade de usar as minhas, que a Sónia me comprou por 13€ (ou 23€) numa loja de chinocas ou afim, e só tive oportunidade de usar em S. Petersburgo.

Mas eu queria falar do sofrimento e já me estou a desviar do assunto...

Desviar do assunto... Podemos começar por aqui. É o que mais fazemos, ou a maioria de nós faz em relação a ele. Ao sofrimento. Temos uma grande incapacidade de lidar com ele e de lidar com quem padece dele. E porquê??? É obvio. Porque é difícil. 

A nossa incapacidade de lidar com o sofrimento leva-nos a lidar com ele de uma forma desequilibrada e desadequada. Muitos de nós exige a si próprio que o sofrimento causado, por exemplo, por uma violação seja o mesmo que o sofrimento causado por ter chumbado num exame. Exigimos a nós próprios que o tempo de recuperação de uma violação seja idêntico ao de um exame chumbado. Que o sofrimento e o tempo de recuperação do sofrimento causado pela ausência de um grande amigo que parte para outro país, seja idêntico ao causado pela ruptura com o ser amado. Para facilitar, passo a chamar às pessoas que  se incluem neste grupo “os super-humanos”.

Para que tal seja possível os super-humanos passam também a ser os super-actores. Tudo é leve e fácil. Parecem os pilares da Terra. Enfrentam todos os touros pelos cornos, têm quase sempre um sorriso na cara, e uma palavra amiga, mesmo para aqueles (que vou passar a chamar “os super-coitadinhos”) que chumbaram num exame e lhes saturam a cabeça horas sem fim por causa desta falha, quando na noite anterior o super-humano X tinha sido vítima de violação. Já o super-humano X limita-se a dizer: “fui violado ontem. Hoje quando cheguei a casa senti-me sujo. Tomei banho e esfreguei-me, esfreguei-me, esfreguei-me, esfreguei-me numa tentativa de retirar a sujidade que sentia dentro de mim...”

Claro que o super-coitadinho Z mostrou a sua indignação, mas nada mais que isso. Muda de conversa. Muda de conversa, como se o X lhe tivesse dito “hoje comprei uns sapatos lindos, mas horríveis para andar...quando cheguei a casa sangrava dos pés”. Quanta frieza se encerra neste acto?! Mesmo que o justifiquemos como “o Z não sabe o que há-de dizer, ou o Z não sabe lidar com o sofrimento” o acto em si é frio e inadequado, diria mesmo cruel. E contra factos não devia haver argumentos.

O super-humano X fica chocado com a frieza do amigo...mas igualmente incapaz de lidar com o sofrimento e, por orgulho, silencia-se e mostra o que sabe tão bem fazer. Fingir que está tudo bem, e que o que se passou, é passado. Se for preciso ainda faz uma piada acerca da situação e abre-se numa bela gargalhada...Fantástico este ser!!! O ser que toda a gente inveja. A fonte de fortaleza, juventude e alegria. O ídolo de muitos.

Na verdade a fonte de falsidade e infelicidade. O actor perfeito.

Mas, como acontece com todos os ídolos, o mundo não vê realmente o ser humano. Não vê nem quer ver, não dá jeito. Nem pensar! Então se nos apercebermos que um ídolo sofre, que a vida dele é uma merda e que luta como o caraças para acordar e enfrentar o mundo cada dia que passa, o que seria dos pobrezinhos sofredores, incapazes e coitadinhos??? O que seria deles sem o pilar da Terra??? O melhor é ser desumano e cego!!! 

O melhor é continuar a achar que se justificam horas de queixumes de coisas para as quais 3 min de queixume já é um excesso. O melhor é continuar a achar que a melhor maneira de lidar com os problemas graves, para os quais horas de conversa não são muitas vezes suficientes e para os quais são necessários meses ou anos para que a dor passe, é ignorar e fingir que está tudo bem. 

Como me disse um black em Quarteira “Tá-se”. Ya, tá-se! Porque não? Vamos beber um copo, ou snifar umas raias de coca, que isso passa...pena que alguns acabem alcoólicos, ou tóxicodependentes, à custa de beberem ou snifarem para que isso passe...mas isso são pormenores que não interessam, não é?  

Tá-se...

...vá de RETRO SOFRIMENTO.

(escrito a 04.02.12)

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