Alentejo...
Local próprio à meditação.
Planícies sem
fim, que nos recordam como o mundo é imenso e como nós somos tão insignificantes.
Dei comigo em Elvas perdida nos meus pensamentos, como aliás é meu costume,
especialmente quando estou só. Sim, mesmo quando acompanhada me perco nos
meus pensamentos.
Mas dizia que me perdi em Elvas, ou melhor nos meus pensamentos...desejei perder-me em Elvas.
Mas dizia que me perdi em Elvas, ou melhor nos meus pensamentos...desejei perder-me em Elvas.
Caminhei até ao
castelo. Estava fechado. Mas ao lado deste um miradouro com uma vista brutal. Estacionei o olhar na imensidão da paisagem e
pensei que realmente os Reis tinham uma vista a muitos quilómetros de
distância...A perturbar estes pensamentos estava um individuo parado no meio do
miradouro de óculos escuros. Por detrás dos meus óculos fingi que não o
olhei...inicialmente pensei que fosse um turista, depois pensei que ainda podia
era ser um janado que fosse importunar o meu momento solitário. Assim, resolvi
escapar-me dali sem demora.
Quando desço as escadas vejo uma loginha engraçada
e resolvi dar uma mirada. Apercebo-me que o fulano se dirigia a mim e quando
estava já a escapar-me, ele diz: “Não quer entrar e eu mostro-lhe as minhas
obras” (algo assim). Parei.
Ahhh afinal não era um gandulo, era um artista.
“Ok”. Respondi-lhe.
Mostrou-me as suas obras e imediatamente gostei
bastante de várias. Falou-me do seu livro de poesia em prosa “O silêncio
ensurdecedor”. Perguntou se eu o queria comprar e se comprasse agora levava o livro autografado. Eu sem
sequer dar uma olhadela ao conteúdo do livro disse que sim. Silêncio
ensurdecedor...nem imaginava ele quanto sentido estas duas palavras juntas têm
para mim. Quantas vezes o silêncio foi para mim insuportavelmente ensurdecedor...e ali no meio do inesperado as palavras eram-me jogadas à cara
sem aviso.
Acho que ficou surpreendido com a minha prontidão
na compra do livro e acho que me leu um trecho, para ao menos eu conhecer uma
parte do conteúdo...que deixo aqui, embora não esteja certa que tenha sido
este!
Luz
Púrpura
Luz
púrpura irrompe da aurora, como o mel ao prazer...Massaja a alma, como a seda á
minha pele, um caleidoscópio de emoções, levita-me o coração até á estrela mais
distante, palavras, sabores, vagidos e movimentos, ensurdecem o silêncio do
amanhecer, embalo os sonhos, nessa luz inspirante, abraço-os como a pele ao meu
corpo, dissolvo-me nesse mar, nessa luz, nesse corpo do desejo...
O
amor!
Enquanto o Luís me autografava o livro fiquei a
contemplar as peças dele e a pensar que gostava muito de levar uma comigo.
O autógrafo
“...deste
oleiro das palavras, as peças, os livros, serão sempre o molde dos nossos
sentidos, o molde da nossa alma!...”
Gosto bastante desta parte e acrescentaria a
música...as peças, os livros, a música
serão sempre o molde dos nossos sentidos, o molde da nossa alma!
Acabei por me decidir a comprar uma das peças de
arte do Luís Pedras. Para isso teria de voltar no dia seguinte, que não tinha
ali o dinheiro suficiente. Tudo bem. De qualquer modo iria ficar a dormir em
Elvas...
No dia seguinte e antes de voltar para Lisboa passei
lá para trazer a “minha obra”. O que mais me atraiu nesta obra foi a
dualidade/ambiguidade de cada ser humano representado...as duas caras. Como me
explicou o Luís cada ser pode assumir diferentes caras, cada mulher tem um
pouco de homem e cada homem tem um pouco de mulher...mais uma vez fez-me todo o
sentido. Várias caras...sim...a cara que mostramos aos outros e a cara que
mostramos a nós próprios. O que vejo e o que os outros vêm...o que sou e o que
os outros pensam que sou...
Enquanto esperava que a obra fosse embrulhada,
entreti-me a olhar para as coisas que estavam na loja...peguei numa taça feita
numa técnica de cerâmica japonesa - o raku. Achei piada à peça pois tinha uma
forma que fazia lembrar um rabo. Perguntou-me se eu gostava e ao meu sinal
afirmativo ofereceu-ma. Mas esta não tinha sido feita por ele. Assim resolveu
oferecer-me mais uma dele. Não satisfeito ainda me ofereceu um cristal para dar
boas energias...Um homem extremamente generoso. Longe do janado que me poderia
importunar...
Na viagem para Lisboa, voltei a encontrar-me
perdida nos meus pensamentos...em que pessoa me tornei, me tornaram, nos
tornámos? Olhamos (ou olho) as pessoas com desconfiança e apressamos-nos a
colocar rótulos, a ter medo, a fugir...Mas porque é que não consegui
simplesmente estar ali sem fazer qualquer juízo de valor uma vez que nem sequer
o conhecia???
Fiquei a pensar nisto e no porquê de tal ser
assim...e foi numa manhã em que me preparava para ir trabalhar e ao ouvir as
noticias no rádio que se tornou óbvio. As noticias eram: a explosão num prédio
de Lisboa, um homem tinha assaltado um banco, outro tinha degolado a família
inteira. Nenhuma notícia boa. Nenhuma notícia sobre homens bons ou coisas boas.
Vivemos diariamente inundados por isto. Uma distorção da realidade.
Negligenciam-se
as noticias positivas e potenciam-se as negativas.
Perco-me de novo nos meus pensamentos sem desejo de encontrar-me...
Pois mas infelizmente temos todas as razões p termos cuidado e, até, medo. O mundo n é um canteiro de brincos de proncesas c pessoas fofinhas, delicadas, elegantes e c vergonha na cara, na sua generalidade. Dps se n houver motivo p o receio, melhor ainda, pode sempre encontrar-se um artista generoso;) O travo feminino no homem e a tonalidade masculina na mulher são tão encantadores, tenho p mim, pq nos lembram q somos seres humanos, mais do q géneros. Estou a pensar cunhar um novo termo: humano-sexual!
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